segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Grito



A ideia por trás da reciclagem é a de poupar recursos naturais reutilizando matérias que, por sua vez, após utilizadas uma vez, e de bem cumprir a sua tarefa, passam a ser nocivos à natureza.

Felizmente os meus filhos já nasceram numa era em que a separação dos resíduos domésticos é tão natural como beber água. O que não consigo é explicar-lhes porque as pessoas não cumprem exemplarmente as suas tarefas. Também não consigo explicar-lhes como uma câmara municipal, tradicionalmente de esquerda, tradicionalmente coligada com o partido “os verdes”, permite que situações como esta se repitam no seu concelho.


quarta-feira, 25 de julho de 2007

Encontro [2]

Quando abre os olhos apercebe-se instintivamente de que Mariana já não está na cama. Senta-se. Passa os dedos pelo cabelo. Puxa-os. Numa suspensão interminável revê a noite anterior. A saia plissada que ondulava graciosamente nas suas pernas. O corpo esbelto que, inexplicavelmente, parecia só agora reparar. A elegância dos gestos. A emoção ao vê-la sorrir. Os olhos, castanhos brilhantes, que lhe sorriam libidinosamente. As palavras não proferidas mas deveras esclarecedoras.
Pergunta a si próprio se todas as relações têm momentos como aquele. Momentos em que cada um tem plena consciência das necessidades do outro. Nem um passo a mais ou a menos. Sente-se exposto. Deita-se. Que sentimentos perduram ainda? Porque não está Mariana deitada a seu lado?

Encontro [1]

De olhos postos no tecto do quarto, deitada na cama, belisca-se. É muito mais que um acto de imaturidade ou vulnerabilidade. É um sinal claro da confusão que vai na sua cabeça.
Conhece Luís há 20 anos. São amigos. Amigos. Só amigos. Simplesmente amigos. Porquê agora?
Do Luís nunca esperou senão segurança. Conforto, vá. Que sentimento inconsequente é este?
Olha-o. Julga-o profundamente adormecido e decide passar-lhe a mão no rosto, sob o pretexto de lhe afastar uma madeixa da testa. Apercebe-se de como sempre gostou do seu cabelo desgrenhado. Estremece. Ainda de desejo. Réplica dos momentos vividos. Dos sentimentos que há muito não partilhava.
Deitada, agora sob o cotovelo, a esboroar-se por dentro, percebe como a sua ausência lhe doía. Na aparente neutralidade dos seus gestos, um bater do coração. Levanta-se. Vacilante veste a camisa de Luís perdida no chão.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Progresso ou fantasia?

Todo o progresso é sempre um distanciamento de alguma coisa.

Maria Montessori – médica e pedagoga italiana (1870-1952)



Como em todas as frases "feitas", o contexto é o que lhe quisermos dar. Distanciei-me quando comecei a tropeçar nas palavras. Faço agora pequenas aproximações. Talvez volte a dançar*.



*Era uma vez uma centopeia que com as suas pernas era muito boa a dançar. Quando dançava, os animais reuniam-se no bosque para a admirar e todos estavam muito impressionados pela sua habilidade. Só um animal não podia suportar que a centopeia dançasse, um sapo...
(...)
Escreveu uma carta à centopeia: “Ó incomparável centopeia! Sou um devoto admirador da tua requintada dança. Gostaria de saber como te moves a dançar. Levantas primeiro a perna esquerda número 22 e depois a direita número 59? Ou começas por levantar a tua perna direita número 26 antes de levantares a tua perna esquerda número 44? Aguardo ansiosamente uma resposta tua. Saudações cordiais, o sapo.”
(...)
Quando a centopeia recebeu a esta carta, reflectiu pela primeira vez na sua vida no que fazia quando dançava. Que perna movia em primeiro lugar? E que perna vinha a seguir?
A centopeia não voltou a dançar. Foi o fim.
É justamente isso que pode suceder quando a fantasia é sufocada pela razão.

Jostein Gaarder em “ O Mundo de Sofia”.



sexta-feira, 8 de junho de 2007

Inquietação

A contas com o bem que tu me fazes
A contas com o mal por que passei
Com tantas guerras que travei
Já não sei fazer as pazes

São flores aos milhões entre ruínas
Meu peito feito campo de batalha
Cada alvorada que me ensinas
Oiro em pó que o vento espalha

Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Ensinas-me fazer tantas perguntas
Na volta das respostas que eu trazia
Quantas promessas eu faria
Se as cumprisse todas juntas

Não largues esta mão no torvelinho
Pois falta sempre pouco para chegar
Eu não meti o barco ao mar
Pra ficar pelo caminho

Cá dentro inqueitação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Cá dentro inqueitação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Mas sei
É que não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer
Qualquer coisa que eu devia resolver
Porquê, não sei
Mas sei
Que essa coisa é que é linda

(José Mário Branco)

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Meme

Dali, da parede do hall de entrada do edifício, observa-me todos os dias. Imponente, acusa-me, defende-me, reduz-me à minha humilde condição humana: Errare humanum est.
Odeio-a! (aponta-mos).
Amo-a! (permite-me corrigi-los).
Ignoro-a. Deixo-a seduzir-me. Diariamente. Irremediavelmente. Infinitamente.


Se não receio o erro, é porque estou sempre pronto a corrigi-lo.
Bento Jesus Caraça, Matemático


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Desafiada pela Pipocas e Carochas, deixo-vos o meu meme e passo a bola aos seguintes (são livres de aceitarem ou não o desafio, mas garanto-vos que pode ser divertido):

NUnoAR - para arejar

Mariíta - para conformar

Luis - para descomplicar

Tony - para descontrair

Ana - para adocicar (mais)

Lois - para filosofar (pode ser depois de férias)

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Adeus

foto de NRP


Uma lágrima por te sentir sofrer e por te ver partir da blogosfera . Amigo de além-mar.