quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Alegria

Já ouço gritos ao longe
Já diz a voz do amor
A alegria do corpo
O esquecimento da dor

Já os ventos recolheram
Já o verão se nos oferece
Quantos frutos quantas fontes
Mais o sol que nos aquece

Já colho jasmins e nardos
Já tenho colares de rosas
E danço no meio da estrada
As danças prodigiosas

Já os sorrisos se dão
Já se dão as voltas todas
Ó certeza das certezas
Ó alegria das bodas

José Saramago


Don’t worry – Be happy

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Tristeza

foto de NRP


No seu passeio matinal, à beira-mar, ao invés da descompressão habitual, o tédio da vida, a maceração física, a machucação psicológica, o aperto na garganta, a irresistível vontade de chorar. O som do mar, a luminosidade poética que acordou o dia, o sol de Inverno a acariciar-lhe o rosto e a lágrima indiscreta a emergir. Tristeza: tanta tristeza. Finalmente os soluços, o choro compulsivo.

Citações:
É bom sofrer, chorar: redime. (José Rodrigues Miguéis)

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Leituras

Com a ruptura abrupta do meu outro espaço, relancei-me na leitura. Por vezes a azáfama do dia-a-dia não permite o relaxamento necessário para um encontro calmo com o livro. Opto, nessas circunstâncias, por uma leitura mais ligth. Foi o que fiz na semana passada. Cansada, triste, desanimada, numa incursão rápida ao CCB comprei, na Bertrand, Beijos de chocolate, de Alice Vaara, jornalista alemã. Detestei! Uma estória que nada me diz, de uma realidade que não é a minha, acompanhada por uma autêntica ausência de beleza literária. Mas quem sou eu para fazer juízos ou críticas sobre escritas alheias? Ninguém… (tristes 15€ gastos).
Mais descontraída, este fim-de-semana, iniciei o Cemitério de Pianos de José Luís Peixoto. Li, sofregamente, uma boa parte do livro. Lamentei que o meu corpo tivesse necessidades básicas, de saneamento, alimento e descanso. Adormeci naquela pintura escrita e sonhei poemas.


A luz da manhã não sente os vidros limpos da janela no momento em que os atravessa, pousando depois nas notas de piano que saem da telefonia e flutuam por todo o ar da cozinha. A luz da manhã, pousada nas notas de piano, detém-se, pontilhada, nos reflexos dos azulejos brancos da parede, nos cantos da mesa revestidos por fórmica, nas gotas de água que se suspendem no rebordo das panelas lavadas e viradas sobre o lava-loiças.

(José Luís Peixoto - Cemitério de Pianos - Bertrand Editora)

Recado

Se um dia descobrires este pedaço não te zangares, meu amor. Deixei-te levar um bocado de mim, por amor a ti. Deixa-me ter este pedaço, por amor a mim. Será este o meu maior segredo. E tu, meu amor, contas-me o teu?

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Pedaços de nós

Pedaços do que fui, pedaços do que sou, pedaços do que serei quando juntares, aos meus, um pedaço de ti.