segunda-feira, 23 de abril de 2007

Porque sim.

Porque amamos e nos concentra,



ou não...



Porque estudamos e aprendemos,



(até) no café,



ou não.



Porque podemos fazê-lo juntos,



em sociedade,




ou na intimidade,




Seja como for,


um livro, é sempre uma boa companhia.







*fotos surripiadas na net

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Palavras, ou pedaços delas



Hoje doem-me as palavras,
as que quero pronunciar
e as que digo sem querer.
Hoje doem-me os significados,
os que sei,
os que julgava saber
e os que recuso aprender.
Hoje dói-me a ponta da língua,
das palavras proferidas,
dos vocábulos assassinados.
Hoje dói-me a ponta dos dedos,
da escrita desenfreada
de um poema morto nas palavras
perdidas nos significados alterados.

Palavras eternas,
significados efémeros,
vocabulários distintos.

Hoje dói-me o verbo, a sentença, a promessa.
Hoje dói-me o que digo
mas, sobretudo, o que não sei dizer.




Bom fim-de-semana.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Luz [3]

Sentada na escada, ao lado do pombal, confidencia a Bia a falta que Francisco lhe faz.
- Se vais começar com essas coisas, abalo já daqui!
- Não... estava só a pensar alto. A verdade é que não consigo esquecê-lo, percebes?
- Ninguém te pede que o esqueças. Só queremos que sigas com a tua vida.
- Qual vida?...
- Bom! Começamos?...
- ...
- Anda! Vamos à cooperativa que eu preciso aviar-me.
Luz acompanha Bia mas não ouve uma palavra do que ela diz. E se Bia fala!... Já não sabe o que fazer para distrair Luz. Sente que o tempo da amiga corre ao acaso. Já não lhe pertence. Francisco levou consigo os desejos realizáveis que ela, ainda, podia ter. De pequenas e de grandes coisas. Só a imaginação de Luz não partiu com ele. Depois de uma vida inteira a versificar tudo o que de bom, ou mau, lhe acontecia, os poemas continuam a sair-lhe sem sequer se dar conta disso. Escreve-os mas já não os relê. Agora são diferentes. Traduzem uma dor que não quer sentir. Uma tristeza que não consegue esconder. Uma angústia permanente que quase a sufoca.

O teu rosto.
O meu olhar,
afogado em lágrimas sentidas.
A tua voz.
O meu grito,
insonoro e esmagado.
Os teus sentimentos vãos.
As minhas esperanças perdidas.


...


Bia deixa-se dormir. Já o sol vai alto quando se levanta.
- Bolas! A Luz já deve ter passado para ir buscar o pão.
Arranja-se rapidamente e sai com a mesma pressa de sempre. Não anda, corre. Mesmo quando tem vagar. A urgência, desta vez, acaba no último degrau que separa o seu terraço do dela. A casa absolutamente fechada de Luz apresenta-se a Bia como um mau presságio. Corre a buscar a chave e entra em casa da amiga com o coração na boca. Bia não precisa de ler os bilhetes espalhados pela casa para perceber o que está a acontecer. Em cima da cama, num aprumo imaculado, a mortalha. Desvairada ruma a casa de Manel Joaquim e, num só soluço, implora-lhe que vá ao Palacete buscar Luz.

Separados por um infortúnio, depois de uma vida inteira juntos, Luz e Francisco reencontram-se no dia do segundo aniversário da partida dele. No mesmo local.
Francisco partiu com 85 anos, Luz com 79.


Fim

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Luz [2]

Como quer que tenha sido, a morte de Francisco faz com que a Vila se una em torno daquele trágico “acidente”. O seu funeral é o mais concorrido de que há memória. Mórbidos, os locatários, querem ver o rosto contorcido da viúva, o corpo estraçalhado do defunto. Sem os desiludir, e sem ser preciso proferir as palavras que lhe queimam o peito, a figura de Luz, já de si franzina, agora disforme pela dor, pelo sofrimento, pela mágoa, pelo desgosto, pela embriaguez de lágrimas, chega para encher de pesar o espaço despido de velas, de incenso, de anjos, da sala onde se vela o corpo, em caixão fechado. O acto de Francisco nunca será perdoado pelo Deus católico. Provavelmente, nenhum Deus, de qualquer credo, receberá a sua alma. Todos, naquele espaço nu, sabem isso. Todos não. Luz não quer saber. Percorre, em pensamentos, a vida passada em conjunto. Deus não lhes deu filhos. Luz nunca lhe perdoou. Julga-se, agora, a ser castigada. Acredita nisso. Percorre os jardins do Palacete. Têm os dois vinte anos. Brincam como se tivessem dez. Estas imagens atenuam a fadiga estampada no seu rosto. Ama-o uma última vez. O poço... servido para pedir desejos, trocar juras, confidenciar segredos,... O poço... o sangue, a dor, o horror,... o poço... o Amor. O seu Amor. O Amor dele.
Quando os condes abandonaram o Palacete deixaram no poço a história das suas vidas. As histórias de todas as vidas das gentes da Terra. Deixaram a história do amor de Luz e de Francisco.
Luz chora sorrindo. Percebe a escolha. Não partiu sozinho.

terça-feira, 10 de abril de 2007

Sleepy

Estado em que se encontra este blog...