sexta-feira, 8 de junho de 2007

Inquietação

A contas com o bem que tu me fazes
A contas com o mal por que passei
Com tantas guerras que travei
Já não sei fazer as pazes

São flores aos milhões entre ruínas
Meu peito feito campo de batalha
Cada alvorada que me ensinas
Oiro em pó que o vento espalha

Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Ensinas-me fazer tantas perguntas
Na volta das respostas que eu trazia
Quantas promessas eu faria
Se as cumprisse todas juntas

Não largues esta mão no torvelinho
Pois falta sempre pouco para chegar
Eu não meti o barco ao mar
Pra ficar pelo caminho

Cá dentro inqueitação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que está pra acontecer
Qualquer coisa que eu devia perceber
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda

Cá dentro inqueitação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Mas sei
É que não sei ainda

Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer
Qualquer coisa que eu devia resolver
Porquê, não sei
Mas sei
Que essa coisa é que é linda

(José Mário Branco)

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Meme

Dali, da parede do hall de entrada do edifício, observa-me todos os dias. Imponente, acusa-me, defende-me, reduz-me à minha humilde condição humana: Errare humanum est.
Odeio-a! (aponta-mos).
Amo-a! (permite-me corrigi-los).
Ignoro-a. Deixo-a seduzir-me. Diariamente. Irremediavelmente. Infinitamente.


Se não receio o erro, é porque estou sempre pronto a corrigi-lo.
Bento Jesus Caraça, Matemático


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Desafiada pela Pipocas e Carochas, deixo-vos o meu meme e passo a bola aos seguintes (são livres de aceitarem ou não o desafio, mas garanto-vos que pode ser divertido):

NUnoAR - para arejar

Mariíta - para conformar

Luis - para descomplicar

Tony - para descontrair

Ana - para adocicar (mais)

Lois - para filosofar (pode ser depois de férias)

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Adeus

foto de NRP


Uma lágrima por te sentir sofrer e por te ver partir da blogosfera . Amigo de além-mar.

O rapaz do neurónio*

Habituei-me ao Rapaz (chamemos-lhe assim, como se de um nome próprio se tratasse) com demasiada facilidade. Na verdade acho-lhe graça. Para ele todos são “Professor” ou “Professora”, conforme se encaixe na natureza masculina ou feminina: o porteiro, o motorista, a secretária, o técnico, a empregada da limpeza, os engenheiros, os doutores e os que o são de facto - professores - uma minoria. A única condição que impõe para tal tratamento é que sejam mais velhos (o que passa a ser deveras interessante quando sabemos que (só) tem 22 anos). Lá calha aparecerem umas caras mais novas. O sorriso rasga-se e o tratamento passa a informal: “Queres a meia-de-leite mais escura ou mais clarinha?”. A pergunta, perfeitamente desnecessária dado que a tira sempre da mesma maneira, serve simplesmente o propósito do tratamento tu-cá-tu-lá. Estou sempre à espera que apareça uma menina que, não sendo ainda professora, não ache graça àquelas "liberdades".

Invariavelmente, entre as 18h e as 18h30m subo, até ao bar, para um café. Quando vou não tenho pressa. Se a tenho, sei que é melhor não ir. Para o Rapaz não há stresses, a velocidade é sempre a mesma. Se tem dez clientes atende um de cada vez. É uma receita básica, elementar. Se os dez querem café, só café, basta-lhes aguardar que o Rapaz repita vez, após vez, após vez, o mesmo procedimento: vazar a borra na respectiva gaveta, com 2 ou 3 pancadas (um barulho que me enerva sobremaneira), encher o recipiente com café novo, tirar a bica, servir, receber o dinheiro, fazer o troco (é bom que hajam trocos na máquina porque entre o pedir 5 cêntimos para “facilitar”, recebê-los e devolver a diferença a coisa pode durar, durar, durar) e passar ao cliente seguinte.



*McCulloch e Pitts escreveram:
A lei de tudo-ou-nada da actividade nervosa é suficiente para assegurar que a actividade de um neurónio pode ser denotada por uma proposição. As relações fisiológicas que existem entre actividades nervosas correspondem, então, às relações entre proposições, isto é, uma rede de conexões entre proposições simples pode originar proposições complexas.